segunda-feira, 12 de julho de 2010

Democracia?

Caros e Caras,

É com profunda indignação que escrevo esse texto. Antes de iniciar, gostaria de esclarecer o que deveria ser o jornalismo e contar um pouco como optei por essa profissão. Escolhi o jornalismo por admirar dois grandes mestres, Mino Carta e Cláudio Abramo. Homens que nunca tiveram medo de dizer o que pensam, mesmo que fossem contrário aos seus melhores amigos, inclusive de partido. E assim procurei seguir a minha vida profissional e pessoal. Afinal, o jornalismo deveria ser isso: INFORMAR COM CLAREZA E SEM INTERFERÊNCIA, SEJA DO ESTADO OU DE QUALQUER OUTRA INSTITUIÇÃO. Os anos se passaram e eu fui lutando contra tudo aquilo que considerava injusto ou que levaria a uma opressão. Algumas vezes, lutei do lado certo. Outras, me enganei. Mas a vida é assim: de acertos e erros.

O jornalismo é uma grande paixão, mas infelizmente, hoje, não conseguimos encontrar o bom jornalismo. Poucos são os que o praticam, ou que conseguem praticá-lo. E isso, caros e caras colegas, é devido a muitos fatores, que em um simples texto não seria possível registrar. A missão do jornalismo deveria ser o de ajudar a consolidar o processo democrático, que é um conjunto de princípios e práticas que protegem a liberdade do ser humano. É a institucionalização da liberdade. E a escolha de lideranças por meio de votação é um desses princípios. Por isso, devemos praticá-la com responsabilidade e conhecimento de todas as nuancias de cada candidato.
A demissão na semana passada de dois importantes jornalistas na TV Cultura, Gabriel Priolli e Heródoto Barbeiro, indignou a todos os profissionais sérios de comunicação. O que mais indignou foi o motivo (leia o texto publicado por Luis Nassif em em blog - http://www.advivo.com.br/blog/luisnassif/pedagio-derruba-mais-um-jornalista-da-tv-cultura). Essa atitude do exercício do poder é mais do que uma afronta à prática do bom jornalismo, cada vez mais distante de nossa realidade. Trata-se de uma afronta à democracia.
E aí vem uma questão ética e ideológica.
O que mais me admira é que o "mandante" de tal feito foi um dos personagens que lutou para que a democracia fosse restituida em nosso país. Lutou pela Anistia. Lutou pelo voto direto à Presidência da República. E agora proibe a informação de um tema que pode prejudicá-lo no processo eleitoral?
Penso então que essa luta pela liberdade de expressão que tantos bateram no peito para defender seria apenas até o momento de interferência nos interesses individuais. Que triste!
Por isso, precisamos repensar a nossa democracia e como ela está se consolidando.
E nos questionarmos se realmente vivemos em uma democracia. Será?
Infelizmente, a cada dia, percebo que a humanidade está longe da prática do diálogo aberto e da boa vontade em aceitar a diversidade de opiniões e atitudes. E fico com muito medo de que teremos que voltar a adotar o conceito "se for contra, não se manifeste. Aceite, apenas".

(escrito em 12/7/2010)

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